GONÇALO BYRNE ARQUITECTOS
 

Coimbra, portugal

1999-2013

 
 

Photos: Duccio Malagamba

Machado de Castro National Museum

The Machado de Castro National Museum is located at the Alta de Coimbra, in one of the highest points of the hill, and its history goes back to more than 2000 years ago. The museum stands, in fact, on an artificial platform composed by the Roman cryptoporticus built halfway through I Century as the podium of the Forum of Aeminium (Coimbra’s Roman name). After a long period of abandon, in the XI Century the site hosted the Bishops’ Palace. Documentation can be found starting in 1083 related to the existence of the church of São João de Almedina, and half a century later of the cloister, a portion of which is still conserved inside the museum. During the XII Century, a new church was built, to replace the primitive, but around 1416 the Bishops’ Palace is supposed to have been abandoned, probably due to the gradual decay of the construction and seismic episodes. At the end of the XVI Century, new interventions were made including the loggia attributed to Filippo Terzi, connecting the two wings of the palace and designing a balcony towards the city.

Within two millennium history that the site accumulates, there are many stories intersected. The archaeological site shows us, not one, but several buildings that remained overlapped or crossed, generating misunderstandings, hesitations or sometimes fantastic and beautiful revelations. The lucid acceptance of contemporary criticism of these sequences, whence the constant mingling of “container” and “content,” is the primary feature of the project in order to correct the rupture of scale and historical context caused by sometimes random juxtapositions. The new museum tries to recover the dimension of the public space of the Roman Forum, reinforcing the valences of daily permanence and use, without neglecting the limitations and constraints necessary to museum areas.

 
 

Português

O mergulho no tempo (o que é a arquitectura senão a impressão do tempo no artifício edificado?) é obsessivo na ânsia de encontrar o filão das sucessivas transformações e as respectivas fundamentações. O processo nem sempre foi contínuo e linear e, se as roturas parecem mais impermeáveis, as lacunas históricas são, por vezes, desesperantes.

O sítio arqueológico revela vários edifícios que se sobrepuseram ou cruzaram, destruindo-se ou fragmentando-se, gerando residualidades, hesitações, abusos, ou, por vezes, revelações fantásticas e fascinantes. Para além da leitura histórica dos relatórios arqueológicos e das várias arquitecturas edificadas, subsiste uma comovente e bela simbiose entre as formas construídas e a geografia da colina da Alta Coimbra, em que a tectónica adquire valor topográfico numa globalidade de sistema cristalino de vazios e emergências, em que a imanência do criptopórtico romano de Aeminium é decisivamente germinal.

Fazendo a desconstrução retrospectiva do sítio do projecto, tudo converge no criptopórtico, suporte do Fórum. Esta construção, destinada a domesticar o declive, transformando-o em chão plano, está, no entanto, construída sobre um assentamento urbano pré-romano directamente ajustado à pendente. A revelação arqueológica deste aglomerado na fundação da abside constitui o momento zero da cronologia museográfica.

Numa breve caracterização das sucessivas lógicas formais e construtivas, destacam-se: o período romano do criptopórtico, a sucessiva implantação românica de S. João de Almedina, o paço renascentista, a galeria de Terzi, a igreja barroca e, finalmente, a descaracterização casuística dos sucessivos “enxertos”, restauros e consolidações iniciados com o alvor do século XX até ao momento presente.

A proposta passa por criar um edifício unitário apesar da sua fragmentação histórica, em que a diversidade e as diferentes especificidades, ao longo do percurso, ajudam a solidificar o valor unitário como museu. Por conseguinte, clarificam-se as marcas arquitectónicas representativas da evolução formal, evocando e deixando antever ao visitante que a apreensão unitária se baseia numa sucessão de marcas culturais impressas no edificado.

Visto do rio e da cidade baixa, apercebemo-nos do novo embasamento de pedra em que poisa um volume étereo translúcido, que à noite se transforma em cubo de luz. A fusão perseguida entre a leveza do vidro e a massa pétrea reflecte a nossa convicção de que o verdadeiro moderno se fundamenta em base arcaica.

O peso fundador e germinal do criptopórtico contamina o contemporâneo, ou o contemporâneo por ele se deixa contaminar, nesta comovente beleza da Alta em que os edifícios adquirem um valor topográfico como um sistema estratificado de cristais opacos e cintilantes.