GONÇALO BYRNE ARQUITECTOS
 

lisbon, portugal

2017

 

Conversion of the Almada-Carvalhais Palace into a Charm Hotel

The Almada-Carvalhais Palace, which dates from the 16th century, was built as a private home for an important Portuguese aristocratic family. By the time of its foundation and taking into consideration the historical sources, it seems almost clear that the palace occupied an unbuilt terrain, although we may wonder about the existence of an earlier defensive construction system or of agriculture platforms and watering systems due to the presence of some wall fragments, since the terrain was located near the beach and the river. From what we may presume regarding its Renascence typology, one would reach the main courtyard from the main door located at the tower gate, and from there connect directly to the noble floor, as it used to be the main distributing space in this highly stratified class society private houses. 

In the conversion of the palace into a charm hotel, the proposal follows the spatial principles of the Renascence typology through a careful and consolidating restoration work. This implies to restore some of the original conditions such as: to highlight the tower in the façade and its specific material expression (a new open joint will reveal the west vertical cornerstone of the old tower); to maintain the original vaulted corridor bringing it back to the original level and recreate the original relation to the courtyard; to eliminate all the additions made to the original courtyard (which is an unique example of private architecture of the Portuguese Renascence period); to re-open the double staircase that leads to the main level of the palace; to align the several rooms accordingly to the painted ceilings and respective beams; to eliminate most of the disruptive transformations of the late uses of the Palace that had subverted the original entrance accessibility and the connection between the palace and the garden; and, finally, to restore part of the garden in a contemporary approach and concerning the new wing (located where it was supposed to exist one of its ancient platforms).

The conservation works go together with new spatial solutions: three empty spaces (either open-air or covered), a vertical movement organised around a thick, tall and pierced wall (a “time sculpture” evoking the fortified walls) which links the several levels both of the Palace and the new wing; and a new wing of large rooms with private patios (in the first floor) or balconies over the garden (in the top floors). The first void is the main garden, which frames the symmetrical façade of the Palace, and forms a spatial mechanism with the main courtyard creating a softer transition between a semi-public space and an intimate court with plants and a whispering fountain. The two other voids are designed in existing spaces and have skylights that can be open under favourable weather conditions. A semi-external space, in-between the breakfast and tea room and the open garden, designed as a winter garden can support events or an extension of the breakfast area. The last void concerns the new hotel reception lobby, a vertical tall skylighted space allows the discovery of the “time sculpture” that holds the vertical circulation core behind.

 
 

Português

O Palácio Almada-Carvalhais, datado do século XVI, foi, originalmente, construído como casa unifamiliar de uma importante família aristocrática portuguesa. No momento da sua fundação e tendo em consideração as diversas fontes históricas, o palácio ocupou um terreno não construído, colocando-se, no entanto, a hipótese da existência de um sistema defensivo anterior, ou de plataformas agrícolas e sistemas de irrigação, devido à presença de alguns fragmentos de paredes, uma vez que o terreno se situava junto à praia e ao rio. Pelo que podemos presumir em relação à sua tipologia renascentista, chegar-se-ia ao pátio central a partir da porta principal localizada no portão da torre e a partir daí aceder-se-ia, directamente, ao piso nobre, sendo este o principal espaço em casas privadas de uma classe altamente estratificada. 

Na transformação do palácio em hotel, o projecto segue os princípios espaciais da tipologia renascentista através de um trabalho de restauro rigoroso e cuidado, o que implica resgatar algumas das condições originais, como por exemplo: destacar da fachada a torre e a sua expressão material específica (uma nova junta aberta revelará a pedra angular vertical oeste da torre antiga); manter o corredor abobadado original, colocando-o à cota original para recriar a relação original com o pátio; eliminar todas as adições feitas ao pátio central (exemplar singular da arquitectura privada do período renascentista português); reabrir a escada dupla de acesso ao piso principal do palácio; alinhar a partição interior nova de acordo com os tectos pintados e as respectivas vigas; eliminar a maioria das transformações disruptivas causadas pelos usos do palácio dos últimos anos que subverteram a acessibilidade original e a relação entre o palácio e o jardim; e, finalmente, restaurar parte do jardim através de uma abordagem contemporânea e face à nova ala (localizada onde se supõe ter existido uma das plataformas antigas).

Os trabalhos de conservação coexistem com novas soluções espaciais: três espaços vazios (abertos ou (semi-)cobertos), um movimento vertical organizado em torno de uma parede espessa, alta e perfurada (uma “escultura do tempo” que evoca as antigas paredes fortificadas), que liga os vários níveis o palácio e a nova ala; e uma nova ala de quartos amplos com pátios particulares (no primeiro andar) ou varandas sobre o jardim (nos andares superiores). O primeiro vazio diz respeito ao jardim principal, que emoldura a fachada simétrica do palácio, e forma um mecanismo espacial juntamente com o pátio central, criando uma transição mais suave entre um espaço semi-público e um pátio íntimo com plantas e uma fonte sussurrante. Os outros dois espaços vazios ocupam espaços existentes onde um sistema de clarabóias permite a total abertura da cobertura sob condições climáticas favoráveis. Um dos espaços, entre a sala de pequenos-almoços, o salão de chá e o jardim aberto, é desenhado à semelhança de um jardim de inverno, que poderá servir de apoio a eventos ou funcionar como uma extensão da sala de pequenos-almoços. E, por fim, o terceiro vazio - um espaço vertical alto, igualmente, com clarabóia - ilumina a área de recepção do hotel e revela a “escultura do tempo”, que contém o núcleo de circulação vertical.